quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Viver ainda é construir

O problema maior não é não saber onde estamos, porque essa vida é mesmo uma mistura, um emaranhado de caminhos. O que incomoda mais é olhar no espelho e ter que procurar nossos verdadeiros rostos por detrás do cabelo, que já não é o mesmo, do sorriso, que também mudou, da espessura do rosto, que também costuma variar com o tempo, e ainda assim, quando nos vemos, não termos a capacidade de nos reconhecermos. Mesmo que se tenha passado uma semana da ultima visita a nós mesmos, quando nos procuramos fronte ao vidro que reflete... nos estranhamos.


Talvez o erro resida no fato de procurarmos quem gostaríamos de ser, ou quem já fomos. Hoje mesmo, queria encontrar a menina de dezessete anos que acreditava nas pessoas e ouvia os “Ramones”, ela pensava que eu iria ser professora, ou alguém que mudaria o mundo, ela tinha o cabelo diferente. Os “Ramones” eu ainda escuto, quanto a ser professora, já não sei mais, e o cabelo fez de mim outra pessoa.


Não sei mesmo onde estou, não faço a menor idéia de quem eu sou e acho que já não acredito mais em milagres. Os “Ramones” dividem espaço no meu MP3 com o Chico, Vinícius, Tom e Caetano. Na estante, onde ficava a “Lira dos vinte anos”, hoje ficam o “Tutaméia” e o “Grande Sertão”. E o único fato meio nostálgico é que eu voltei a usar óculos.


Não consigo contar o que larguei pelo caminho, talvez alguns quilos, um grande herói, alguns amores e um pouco de idealismo. O fato é que eu não me reconheço.


Uma vez, quando eu ainda tinha os dezessete anos, eu disse que viver era construir, e esse é um dos poucos pontos que eu ainda não me cansei de frisar, e o único momento no qual eu me vejo eu mesma, sem variar.